segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Serafim e Oxum

bem dito
Serafim de olhinhos tortos
permuta oração por pão
um trampo qualquer
nos confins do Paquistão
movimenta seis asas douradas 
ao redor de Oxum Conceição
anjo tropicalista
pratica parkour sobre a linha do Equador
assobiando uma canção natalina 
outro dia, enquanto contava rugas,
diante do espelho veneziano,
a eternidade o abraçou.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

NOITES DE CABÍRIA

nas noites de Cabíria
Eros embala o fetiche
de todo macho da espécie:
uma fêmea enlouquecida
se contorcendo em espasmos
na testosterona vulcanizada 
- assim assim 
ah sim! ah sim! - 
2 whiskies atrasada 
para o encontro improvável 
sob o viaduto da ex.Perimetral
andara coçando a palma da mão direita
sem notar que esse era o sinal
que a tornaria
arlequina, pierrete e colombina
da sua própria sorte

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

3 EM 1

1-sujeito
alquimista de verbos
substantivos
artigos
pede licença poética
ô abre alas
poeta concreto
rapper renascentista
trovador de cem sentidos
reinventa a métrica
subtrai o gênero
finge ser outros
refrão para o bardo:
- lá vai o poeta
cabeça à prêmio
dançar à beira do precipício - 

2-verbo
escrever
aguardar
paciente-mente
a idéia
aparar
os excessos
os supérfluos
os demais
enfim
o texto
enxergar no papel
outras possibilidades

3-objeto
poesia
santa loucura das palavras
subversão do significado
carnaval do significante

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

falo-te de amor

breve...
n.ossos olhos
se cruzam
istmo
em forma
de nós
estimo-te
seguramente
desejo-te:
n.ossos sexos
plenos 
sem nexo
per.plexos
umbigo seguro
o falo
em minha boca
fa.lo-te de amor
depois
dá paz


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

πνευμα

soul do sopro, 
do pneuma.
da guerra de Tróia,
o cavalo
[de barriga oca].
sua Helena em visita
aos sonhos dos incautos.
sonâmbula, 
incensada 
espartana.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

rupestre

diz-se que
 hu[manos] 
 her[manos]
preservam o nervo reptílico:
 escamoso e rupestre.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

corda bamba

Intimamente
Cultivava o estranho hábito,
[Indolor] por sinal,
De andar na corda bamba.
10 dedos sobrepostos em prece
Ao anjinho,
Barroco e descabelado.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

sexta-feira, 28 de junho de 2013

À cubana

cigarrilha
Suerdieck Ltda.
moldada na
geografia roliça
do Recôncavo
:coxa à cubana.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

verão em púrpura

dEbruço-me

                                  sobre o fruto entumescido.

aspiro o olor da amora:

                                                                                           silvestre, madura. 

                                              
em doses homeopáticas

adentra minhas narinas.
                      
                                           nO  fluido  licoroso

                                                                                                               
as operárias e a rainha

                     se embriagam.


as amoras do jardim ao lado se precipitam chão abaixo.

                                                                     vErão em 

púrpura.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

apocalípticos e desintegrados

A palavra me sustenta.
Ainda há de me salvar,
a palavra.
Uma bocarra
por onde escoe
toda imundície.
Uma cloaca fenomenal e disposta.
Um andróide
suburbano
irá nos redimir,
quando
2 redemoinhos turbinados
colidirem na
linha do horizonte.





terça-feira, 11 de junho de 2013

crisálida

preencho-me do nada.
assim são os seres.
aquela semente acolá...em estado de repouso.
a borboleta em seu casulo, crisálida, casta,
sem quereres.
uma única vela é capaz de iluminar,
mais que a aurora boreal,
o céu do hemisfério norte.
o nada me preenche, outras vezes me esgota.
teria que nascer infinitamente se quisesse cessar.
pra não existir, apenas uma.

terça-feira, 4 de junho de 2013

cavalo marinho

um sentimento
dissidente
se precipita
em mil facadas
falácias
estilhaços
o estrangeiro
Odisseu
não duvidaria
da minha sina
eu, tão longe do mar
o mar ancorado em mim
maremotos
marés
cavalos marinhos
viram brincos de princesa
o cais não me aproxima
o continente
prolonga a melancolia
essa herança lusitana
encrustada
em verde jade
viajante. latejante.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

amor aos pedaços

*
fez-se o amor
aos pedaços,
doce e mutilado.
entre o vômito e o sangue coagulados.
nunca mais mãos entre mãos,
nunca [mais] sofregidão.
friccionar 
nossos sexos sob os lençóis
de um hotel ordinário.
apenas a denúncia da ausência.


**
o espírito livre se inquieta
porque sabe da inutilidade do Deus vingador
sabe da sua orfandade, esse espírito livre
da incompletude de toda metafísica
se regojiza nas esquinas
território de ninguém

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Verbo

Ninguém amou como ela. Talvez.
Telas pintadas
Cartas rebuscadas
Declarações à parte
O cotidiano
Foi tomado pela volúpia
Não havia tempo para delongas
Dar brilho na prataria,
Desinfetar com álcool as taças de tinto,
Os sequilhos de coco
- Guardá-los em latas de leite em pó - 
No fundo do quintal
Curumins tamborilam
Um ritmo binário e ancestral
Bundas crioulas arrochadas 
Em cangas de algodão seridó
Se entediam em meio ao frenesi
Uníssonas e solidárias

Verbo: e
ra a vida que nos vivia





sexta-feira, 17 de maio de 2013

Arpoador

dia santo
todo santo dia
as gaivotas alçam vôo

o mar do Arpoador
oriundo verde único
pro fundo

deu 6 da tarde
no relógio de pulso
caminha a memória
passageira 
sem pressa
porque é janeiro no Rio

me banho de lua
poupo minha pele
do castigo tropical

os pés buscam o contato
quente-fino da areia
as Havaianas?
servem pra nada

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Abigail

o dia era para enfatiotar-se
anel de alpaca no indicador direito
a pedra da lua ungida pelo padrinho
casaquinho de cambraia bois de rose
peitilho bordado com fio de cabelo
um primor das prendas domésticas
o tilintar das pulseiras  
dos colares de baquelite
(clac, clac, clac) 
boquinha de lacre
olhinhos de kajal
um excesso sem culpas
nem desculpas

(resquícios da fidalguia)


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Desassossego

Depois
o
pulso
recebeu
um
poema.
Veio
com
todo
o rigor. Vigor. 
Em
espasmos
quase
imperceptíveis.
Ah, 
quanta
vontade.
Necessidade 
mediúnica
do
ser tomado.
Persuade 
a
mão. 
Impressão
digital.
Adjetivo superlativo absoluto sintético - urgentíssimo.

Surrupia
sujeitos,
deflagra
acentos.
Uma escrita 
de
desassossego,
camaleônica,
ornada 
em braile.


terça-feira, 30 de abril de 2013

bérberes

azinhavre no fuzil
a vereda de buritis 
subtrai a batalha 
no deserto
o vento contra-alísio 
espalha a novidade
e compõe 
uma sinfonia distinta: bafo, sopro, assobio
atiça dunas
movimenta caravanas
<se orientam por cartas celestes>
sem cerimônia 
galopam 
planícies de sal
carne viva nômade, 
bérbere
pertencem ao tempo
senhores de areia
divindades sem altares
se revezam 
entre trajes de índigo
cospem a ferida 
macerada dos ancestrais
íntimos da sua condição
ainda tantos
quase muitos
tuaregs

quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 de abril


A madrugada amplificava
o ruído surdo do metal
na porta de serviço

Madrugada  caprichosa 
daquelas que ecoam pensamentos
de umas cores indizíveis,
forma insinuante e corpulenta
propícios ao último sonho da noite

Uma luz ínfima espreita por trás da persiana
cega as retinas (acostumadas à penumbra do quarto) 
os cravos vermelhos, presente do amante português
secos - virariam pout-pourri no vaso de baccarat

A madrugada
rubra, colorada e carmim
amplificada no ruído surdo do metal



quinta-feira, 18 de abril de 2013

haikai por um triz

o arco-íris 
circunda
a lua plena
no ápice 
da forma
pousa 
seu semblante
sobre os viajantes
sobre a rã de Bashô

sexta-feira, 12 de abril de 2013

oráculo

faço plantão das minhas emoções
dia/noite/dia/noite/dia/noite/dia:
um Narciso 
se deliciando com a própria imagem
_ ai de mim assim tão identificada

sexta-feira, 15 de março de 2013

eterno retorno


babe,
descolei aquele ticket to ride
acendo uma vela
juro queimar os devaneios
mergulho na rotina
me distancio do sonho
- ah, esse eterno retorno,
mistério que nos acompanha.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

por tenho por supuesto

tempo e contratempo
castelhanos e milongueiros
herdeiros dos bordéis
do jogo de pernas sensuais
um trago e 
mil tangos na garganta
- outro expresso, por favor
os intermináveis cafés

a florida e a corrientes
disputam a atenção da bela portenha
o bandoneón solitário
acompanha o ritmo dos passantes
doppio più lento
talvez pelo calor improvável 
pouco temperado, muito tropical

tempo e contratempo
a cidade decó-nouveau
toda prosa dos seus monumentos
as esquinas em uníssono sussurram:
evita-me se fores capaz